Contos


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"Apenas quando somos instruídos pela realidade é que podemos mudá-la."
(Bertolt Brecht)


Realidade

                                   
Hoje quando acordei constatei algo terrível. Por isso fui para sala e coloquei uma musica relaxante. Parece que na noite anterior eu transgredi para uma essência cósmica. Olhando no espelho descobri que não sou ninguém! Por mais que fosse pujante, não consegui extrair esta sensação de obsedado. Mas o que vinha depois era pior... A indagação consistia em: Será que algum dia vou ser alguém? Não tive resposta alguma.
Regurgitei o excesso de morbidez para a sociedade. Minha mãe sempre falava que no momento de dor e sofrimento deveríamos buscar um ser superior, Deus. A fé era a minha salvação. Novamente me perguntei, se tiver fé em Deus, vou melhorar? Não sei como eu chamava aquele dia, diante de tantas negativas obscuras, avaliei que muitas pessoas têm fé em deus e por ironia pobre estão. Não sou religioso, padre ou uma oblata, entendo que o cristianismo do homem trabalha com um poder cego, inabalável e fechado a qualquer influência. Cansei da bondade angelical, recompensas do céu é para quem crê.
Nasci para conviver em uma sociedade que não sabe o que é comunhão. Bestialmente cansei de projetar meus pensamentos na escuridão. Não sei quanto tempo terei para encontrar a razão. É difícil ter esperança nesta aldeia de poucos. Onde muitos nascem para sofrer e poucos para viver. Porque tantos questionamentos? Porque tantos sofrimentos? “Deus porque seus filhos sofrem”? Agonizo tanto, dizem que sou depressivo, alegam que sou estranho. Sinceramente, esse é o castigo pelos meus pecados? Tirei a vida de inocentes...  Não tinha noção do que fazia. Meu erro agora é pago com a solidão.

Falam que todos têm uma missão, não sei bem qual é a minha! Vivo em um mundo que não tem salvação.

Nosso homem vai até seu quarto abre uma gaveta, pega algo dentro de uma caixa grande e vermelha, vai até a sala, aumenta todo volume da musica, depois entra no banheiro. Ouve-se algum barulho vindo do banheiro.
A canção acaba a vida termina
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Borboleta






"O suicídio é a grande questão filosófica de nosso tempo, decidir se a vida merece ou não ser vivida é responder a uma pergunta fundamental da filosofia.  Albert Camus


Caminhava sem rumo, não sabia quem era, ou, o que queria. Não tinha nome, muito menos números de documentos, apenas tinha a intenção de algo. Minha causa era somente minha e de mais ninguém, não tenho transtorno mental, não sou depressivo, não tenho transtorno bipolar, não estou bêbado e nem drogado. Estou limpo.

Naquela tarde de Sexta-Feira, depois de muito andar, resolvi sentar em um banco de uma praça. Logo depois, senti uma sensação corporal de leveza, flutuei com meus pensamentos, chegando a conclusões de que minha vida não tinha graça. Era uma decrepitude social que me trazia ensejos. O engraçado que todo o dia sai em busca de uma trajetória melhor, infelizmente nada acontecia. Acabei esmaecendo, não tinha construído alicerces suficientes, por isso, vou arruinar.
Que mundo é este? Que sociedade é essa? Onde você tem que dar algo, para poder receber sem ser julgado. Tudo se concentra no dinheiro. Esta sociedade é ilegítima por pensar assim. A hierarquia latente nos seres humanos é hipócrita. Crer em Deus, obedecer algum superior, talvez combater pelo seu país. Predominâncias... Um mundo de insidiosos!
Foi então, que reparei em uma simples borboleta voava pela praça, ela tinha uma graça. Aneticamente ele era livre de tudo e de todos. Sua existencialidade era a dádiva dos deuses, o baterem de suas asas era maravilhoso. Acompanhando seu destino, ela acabou pousando em um banco do meu lado. Neste mesmo recinto havia um homem, ele trajava vestimentas brancas. O mesmo começou a olhar para a borboleta, soltou um sorriso puro. Depois ela morreu. Não sei por que ela faleceu. Caiu no chão, ela não mexia.
Aquilo pareceu ser meu sinal, o desfecho da sabedoria, da fé, da psicologia, da honra e do sentido da vida. Não viverei em uma sociedade que manda e desmanda, se viver vou destruí-la, não consigo morar nela, ou viver com suas leis. Portanto no final desta tarde, eu morrerei...

Fim
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27 de dezembro de 2010
Conto

Sete dias da semana


Cap I

Segunda feira





Ser gerente de uma empresa do ramo comercial pode ter suas vantagens, principalmente no aspecto financeiro, ter uma sala, seus subordinados, mas nunca esquecendo que você também tem um superior, é a hierarquia! Agora então, onde nosso país passa por uma instabilidade na economia, 2010 é o ano de crescimento, teremos logo a frente copa do mundo e olimpíadas. Nossa moeda esta crescendo, o Brasil já virou à principal potencia no MERCOSUL, e a próxima escala é o mundo.
Nessa situação temos um homem, ou melhor, um gerente de uma rede de hipermercados conhecido em nosso país. A pena que é uma multinacional. Na segunda feira o gerente tinha que estar no seu serviço às oito horas da manha, acordava sempre da mesma forma, relaxando em direção da luz que refletia da janela, era um ritual! Morava sozinho (pela idade do individuo seria normal), seus pais já tinha morrido em um acidente na Bahia, exatamente em Vitória da Conquista, o seu pai cochilou e bateu o seu veiculo violentamente na estrada Rio – Bahia... Dois longos anos já se passaram, ele superou com muito aperto no coração, lógico que teve por trás um bom tratamento psicológico. Mas para sempre ele terá a imagem dos corpos de sua família na sua mente e alma, foi uma dor insuportável ainda mais para ele que caminhava sozinho em sua estrada de vida!
Seu apartamento era bem estruturado e organizado, preferiu o alto a o baixo como sempre dizia: “gostava do ninho dos passarinhos do que dos felinos”. Após seu banho, tomava seu café reforçado e iria para sua rotina da vestimenta. O seu estilo é social, gostava de cores alegres em tons pastéis a gravata era da cor berinjela, suas camisas tinham colarinhos estreitos com ar retro. O sapato sempre era italiano!
Logos após o ritual estava pronto, ia até a garagem onde estava seu carro um Ford Fiesta, comprou faz uns meses de uma amiga que estava se desfazendo do automóvel. Estava tranqüilo enquanto o horário, sempre chegava mais cedo, ajudava a abrir a loja, um exemplo de ética profissional, mas justamente naquela segunda o carro não funcionou, o homem não entendeu o porquê, mas enfurecido começou a chutar seu veiculo, ele é impulsivo e descontrolado. O porteiro de longe, (melhor exatamente da sua guarita) notou a cena e perguntou se ele precisava de alguma ajuda! O homem aceitou e tentou acalmar-se, mas minutos depois ele já estava bravo novamente, ele era escravo do tempo e seu capataz o relógio o acelerava. Perguntou ao porteiro;
_ Como é vai demorar muito?
O simples empregado olhou para ele respondendo secamente_ Seu carro hoje não funciona, o motor esta fundido!
Sem controle o homem esbraveja;
_ Como assim fundido, eu nada fiz, você não sabe o que fala seu “mero” porteiro, não preciso do seu conselho de mecânico.
O porteiro sem ter onde colocar a sua face;
_ Desculpe senhor, só queria ajudar!
Ele levantou-se e voltou para portaria, o homem entrou novamente no carro e tentou sem parar... Cansado e já atrasado, resolveu ir de ônibus. Não era muito longe sua casa do serviço!
Antes de ir para na portaria. Pergunta como chegava ao seu serviço, o porteiro o respondeu;
 - O Senhor desce pela rua, no primeiro ponto pega o ônibus do numero 066 parque novo mundo! Sem agradecer o gerente lhe da um bom dia e segue o caminho.
Pensa em como é bom ser superior, tratou o porteiro mal e o mesmo teve que engolir e ajuda-lo a encontrar o caminho, mas são muito burras essas pessoas vazias de conhecimento “vou descer por onde pelo céu”. Pensa o Gerente.
Em outra mente, a do porteiro vemos: “ele me paga por ser mal educado, é tão sem noção que dei o numero do ônibus errado inventei o nome, nem sabe que hoje é meu último dia, depois entro de férias”.
Chegando ao ponto começa a esperar, e nada do ônibus, olha ao relógio, nota que já esta super atrasado, nunca tinha estado atrasado, muito menos chegado! Então estranhando a demora e sem alternativa pergunta para uma moça que ali estava;
_ O ônibus Parque Novo Mundo demora muito?
A moça mal olhando em seus olhos diz que este ônibus não passa naquele lugar.
_ Como não, o Numero é 066, e você poderia olhar para mim quando eu falo!
Ela nem dando atenção para ele sobe para o ônibus que para no ponto. Já imaginando que o porteiro tinha brincado com ele resolve voltar e obrigar o síndico a mandá-lo embora!
Foi quando do nada parou um ônibus no ponto... Ele voltou, viu que era o seu! Subiu no veiculo que estava vazio, apenas uma moça no fundo! Como era detalhista percebeu coisas estranhas naquele ônibus, o motorista e o cobrador todo de preto e com óculos escuros, imaginou: - Belo uniforme pelo menos não suja tanto. E os vidros eram espelhados, como não tinha costume de andar de transporte publico não achou nada esquisito. Antes de passar a catraca pergunta ao cobrador o tempo de demora para chegar, o cobrador de cabeça baixa e sem levantar a mesma diz: “Toda nossa viagem é rápida”.
O gerente passou a catraca refletindo,
_ Mas que pessoa esquisita trabalha no funcionamento publico com essa voz horrível, parecia que estava engasgado com algo, vou me sentar próximo do fim do ônibus já que vou descer logo.
A viagem continuava sem parar, ele não estava conhecendo os lugares que estava sendo feito pelo motorista, mas não quis perguntar deveria ser caminhos diferentes do seu habitual. Começou a olhar para o tempo e notou que seu relógio não funcionava, ficou intrigado com isto! Já se incomodando com a viagem e porque também as ruas estavam desertas e pela sua cabeça já fazia uns trinta minutos que estava no veiculo, de carro mal fazia quinze. Resolveu ir até o motorista, mas ouviu uma voz;
_ Aonde vai? É melhor não incomodam-los eles gostam de fazer o serviço em paz!
Ele olhou para trás e viu aquela moça, logo percebeu o quanto era linda! Seu olhar era encantador e penetrante, seu sorriso um convite, à linguagem corporal era tão sensual, e o pior que ela estava sentada! Naquele momento se auto indagou; _ “A ignorância é bela ou a beleza é cega”. Que ser era aquele que o homem tinha se deparado, a tempo ele não sentia um frio na barriga, em momentos rápidos venho em sua mente lembranças do amor ou da última pessoa que tinha tido este contado, lembrou de como era gostoso o sexo.
_ Bem... Posso então perguntar algo a você moça.
_ Claro que pode! Ela respondeu.
_ Vai demorar chegar a meu serviço?
O homem não tinha notado que perguntava sem informar o endereço que queria descer.
_ Não a viagem é rápida!
_ Então esta bem! Respondeu rápido e sentou no banco, seu coração acelerou, sua mão suou, e sua boca não queria calar-se olhou para trás puxando assunto para falar;
_ Sabe, hoje minha segunda não começou bem, e quando inicia assim vai até domingo. Ela apenas olhava para seus olhos. Ele pensou “que droga, ela quer ver minha alma”.
_ Cuidado que se pensar assim sua vida pode acabar em sete dias, e no cemitério vai estar! Disse a ele rapidamente.
_ Mas porque diz isto? Curioso o Gerente estava.
 _ Esta cálido aqui não acha? Pergunta a mulher? Ele sem saber o que fazer ou dizer só pensava em como seria um bacanal com aquela mulher.
_ Realmente esta muito quente aqui dentro, deve ser porque o vidro é desse jeito.
Naquele momento o ônibus parou, e as portas abriram. A mulher o olhou e disse_ Desça que chegou ao seu lugar.
_ Foi mesmo rápido. Sei que posso ser ousado, mas saiba que você é ditosa demais e gostaria de vê-la de novo. Sem vergonha ou timidez ele olhava para ela como um leão cobiçando sua presa.
_ Desça logo eles estão olhando feio para você. A mulher fazia referencia ao motorista que nem se movia e o cobrador que continuava de cabeça baixa.
_ Sim, mas como posso... Ela o interrompe _ Como o percurso da cachoeira vamos nos encontrar, nem que seja no fim dela, agora desça!
Sem entender muito e incomodado com a imagem dela ele desce, pensando apenas que o colóquio que tinha com aquela moça tinha sido instigante e estranho.  Ele lembrava do olhar que não desviava de sua mente, ou ate mesmo o corpo dela que ao andar o chamava, uma fada? Mas, não acreditava em tão asneiras, mas quem era então?
Olhou e percebeu que estava em frente o serviço, entrou e viu que não havia chegado  atrasado! Bem como tudo tinha sido estranho apenas continuou sua rotina diária.
Na volta para casa pegou carona de um amigo, e desceu no prédio onde morava, ao adentrar na sua consciência via apenas ela, tudo, um novo mundo. Mas quem era ela, uma facínora talvez?
28 de dezembro de 2010
Terça feira



Ao acordar na terça, ele percebeu um sonho! Com a imagem da moça do dia anterior.
Ele lembrava que há tempos não sonhava; “parecia tão real, invadiu a pobre moral. Mas ela gritava de um abismo, e ao mesmo tempo ouvia murmúrios”. Pela primeira vez há anos ele não fazia o ritual diário ou sequer estava preocupado com o horário.
Mas preparou-se para o serviço. Ao sair nem se lembrava da sua idéia de denunciar o porteiro, nem viu que já era outro que estava na portaria, deu um bom dia e seguiu. Dirigiu-se até a garagem, mas vendo seu carro desistiu, resolveu pegar o ônibus! Foi ao mesmo ponto, no mesmo momento do dia anterior. Pensava na chance de ir com o mesmo ônibus, era mais certeiro encontrar novamente aquela mulher. O ponto estava vazio! Ele ficou parado, esperando. Pensava na imagem da dama e nem se deu conta que falava em voz alta!
_ Como pode existir uma mulher tão bela! Quem és tu mulher? Só a vi uma vez... Não é possível que isto esteja acontecendo comigo. Mas subitamente ele ouve uma voz feminina;
_ Bom dia! O senhor esta bem?
Ele vira-se bruscamente desejando ser sua dama, mas não era. Seria a mesma moça de ontem? Ele não recordava havia apenas uma mulher em seus pensamentos, mas respondeu com veemência;
_ Estou sim! É... Passando minha fala de uma apresentação que terei hoje! Desviando a cabeça e o olhar. Mas ela continuava a olhar e perguntou mais uma coisa: O senhor conseguiu pegar seu ônibus ontem?
Veio a luz de reconhecimento, era a moça de ontem do ponto. Que mal me olhou!
Secamente ele a responde; _ Sim! E foi aqui mesmo. Friamente sai de perto dela.
_ Que bom! Enfaticamente ela retribuiu. _ Desculpe por ontem, não estava bem! Sabe uma coisa horrível... Ele a interrompe.
_ Não quero saber nada seu! Os problemas são teus e não meu. E seu ônibus esta vindo!
Desconcertada ela faz um sorriso pelo lado esquerdo da face, e sobe para o ônibus. Ele a olha subindo, ela devagarzinho põe um pé de vez por degrau, tinha um vestido azul marinho que a cada passo colava em seu corpo. Mas não era essa moça que queria ver, alias ontem foi muito estúpida para hoje querer se desculpar, como sempre dizia para seus funcionários em relação aos erros. “Ao errar não se lamente, pois isso é hipocrisia”.
Por incrível que pareça, seu ônibus não vinha, estava preocupado com duas coisas, a primeira era em ver a moça e a segunda era no tempo que poderia chegar atrasado. Nunca colocou nada além de seu profissional. Mas não se importava! Já angustiado, percebe o ônibus chegando. Acenou com um ar de felicidade.
Entrou no ônibus e viu o mesmo motorista, que como ontem nem esboçou olhares para ele. Virou-se para dentro do ônibus percebeu vazio de novo. Foi em direção ao cobrador, passou seu bilhete e seguiu para o fim, ela não estava lá. O que será que tinha acontecido? Logo venho na mente dele que ela poderia estado ali somente por algum motivo especial, e não que como ele tinha um modismo de vida!
Sentou-se no mesmo banco, e sentiu que tinha no ar o cheiro do perfume dela. Ao infestar em suas narinas ele enlouqueceu. Levantou-se e foi em direção ao cobrador perguntar se ela era assídua daquele ônibus.
Viu que era o mesmo cobrador, e do mesmo jeito estava.
_ Com licença! O senhor lembra-se de mim?
O cobrador nada reagia. Foi quando ele levantou a mão para balançá-lo, pensando que o mesmo dormia.
_ Não se atreva a me tocar, e como viu, não há ninguém aqui.  Quem procuras nada quer contigo!
_ Como assim! Não entendi? Com uma voz mais áspera o cobrador o manda sentar, dizendo que sua viagem seria rápida, e por isso era melhor sentar-se de novo.
Sem perguntar mais nada ele obedece. Mas sentiu também um cheiro horrível vindo do cobrador. Ao sentar olhou o cobrador que voltou para sua posição anterior. Notou que seu relógio estava parado de novo, mas nem quis preocupar-se. Pensava na mulher que como uma luz apareceu e como uma vela no seu ato final faleceu... Um mar de ambigüidade jorrava em seus pensamentos. O ônibus parou e abriram-se as portas, tinha chegado a seu local de destino, desceu e olhou para o relógio, como ontem tinha chegado a tempo!
Entrou na loja e começou o seu cotidiano! Como era um exemplar funcionário, manteve suas funções diárias e no almoço onde se reunia os outros gerentes e seu diretor, ele comia quietamente sem esboçar nada. Na mesa com quatro cadeiras sentava ele a direita, tinha outro gerente ao seu lado, e na sua frente seu diretor e do lado dele a única gerente mulher da loja. Alias, ela, ele admirava muito por ter chegado onde estava, um mercado competitivo e machista! Naquele dia no seu silencio, ele pode ouvir os ranger dos dentes de seus companheiros de mesa, o mastigar da carne, enfiando dentro os dentes, o engolir.
Foi enfadonho, não havia congruência alguma naquele recinto, e no fim os palitos nos dentes, ele levantou-se e saiu sem se despedir. Voltando ao batente a gerente foi conversar com ele;
_ O que houve no almoço, saiu sem falar nada, e notei que não estava ali conosco, quer conversar sobre o que incomoda!
Ele a olha dentro dos seus olhos e num piscar de olhos; _ Estou bem e não quero conversar, tenho muito a que fazer.
Ela vendo que ele queria era ficar sozinho, sai e no meio do corredor olha para trás; _ quando quiser é só me procurar!
Agradecendo com a cabeça ele reflete. - Ela pensa o que?  Queria que falasse tudo! Que encontrei um uma mulher no ônibus e estou amando a infeliz. Ela me acharia um louco por tal atitude. No fim do dia pega novamente carona com seu amigo, que é um vendedor da loja! No caminho de volta, ele resolve perguntar ao vendedor;
_ Você ama alguém?
 O vendedor sem pensar muito e preocupado com o transito.
_ Sim!
_ Mas como assim, foi de que forma? Rápido?
_ Bem conheci uma mulher certa vez no bar, disse a ela que amava. E depois casei com ela.
Vendo que não era o único louco por amar tão rápido, tranqüiliza-se. Mas o amigo vendedor fala mais;
_ Lógico que você não acreditou não é! Jamais me casaria desta forma, olha amor não existe, é tudo fruto de nossa imaginação, como digo sempre “o amor é um jogo de interesse”. Após essa afirmação a viagem chega a seu fim, ele sai e agradece a carona.
Não entra de imediato, da uma súbita vontade de correr, e corre sem parar... Fica esbaforido, mas pensa nela sem parar, não sabe o que fazer, resolve parar e ir para casa dormir. Mas antes do fim do anoitecer, ele atenta-se e grita; só queria ter ela... Nunca tinha sentido aquela sensação de derrota, resolver buscar o sono antes que a noite acaba-se.
29 de dezembro de 2010
Quarta-feira

Ao amanhecer a primeira imagem que ele viu... Foi a da mulher! Sonhou novamente com o vulto, mas desta vez conseguiu chegar perto da sombra, mas para desespero dele, ao se aproximar nada viu, nada sentiu. Ele já nem conseguia seguir seu rito diário, ao banhar-se não fez a barba, não quis pentear seu cabelo, pegou qualquer roupa que encontrou pela frente. Passou pela cozinha olhou o que tinha, mas a anseia veio logo. Resolveu não tomar café, não sentia fome, não sentia nada!
Pegou a chave para ir de carro, queria tirar este estigma do fracasso que almejava sua mente. Ao sair de seu apartamento ouviu uma musica bem baixinho do apartamento vizinho, falava de cansaço, do seu ser estar pequeno, das lagrimas... Pegou o elevador com um vazio interno dilacerante. Brigava com ele mesmo, não entendendo o porquê? Nem na morte de seus pais chorou tanto! Aquela viagem de menos de dois minutos não acabava... Começou novamente a falar sozinho;
 _ Como posso estar apaixonado por um vulto ao qual nunca estive abraçado! Que droga. O elevador chegou à garagem.
Ele tinha decidido não ir de ônibus, não queria se decepcionar novamente. Mas olhando para o carro percebeu um amor não correspondido, e de como era superficial a vida que levava. No mesmo momento que abriu a porta, sentiu que se entrasse seria um abjeto para o resto da vida. A fechou com tudo e correu para frente do prédio, nem deu bom dia ao porteiro, queria chegar logo no ponto. Seu amor poderia estar no ônibus!
Percebeu assim que chegou que a mesma moça dos outros dias também estava lá. Não quis olhar para ela, mas viu que novamente ela estava de vestido, só que desta vez era branco, e como o outro realçava seu corpo, que com ao cair da seda na pele via-se de como seu corpo era perfeito.  Como estava nervoso demais resolveu dar um bom dia.
_ Bom dia! Conseguiu resolver seu problema de ontem?
Ele viu que ela respirou bem fundo, e olhou diretamente em seus olhos.
_Cansei de sua loucura! Primeiro trata-me mal, ontem eu resolvi puxar assunto, você me ignora, e hoje quer saber de como estou? Você é louco, nem ébrio deve estar?
Surpreso com a resposta, ele olha para ela e louco para pedir ajuda! Para contar para esta estranha, o que estava acontecendo, e possivelmente pedir socorro por causa de um amor! Ele apenas falou;
_ Seu ônibus esta chegando, tenha um bom dia e um bom serviço.
Ela acenou e o ônibus parou, mas antes de subir o entrega um papel na sua mão e sobe. Mais uma vez ele a olha subindo os degraus e sente seu cheiro no ar. Assim que o ônibus o saiu, ele pega o papel e abre, fica parado e pensativo com o que lê, mas como sempre no mesmo horário seu ônibus o chega, ele dobra o papel e põe no bolso. Antes de acenar o ônibus para, e abri-se a porta.
Subindo e caminhando com pressa para ver se sua dama estava no interior. Não a vendo de novo sua existência sentiu a dor! Passou com pressa e sentou no mesmo banco, e por ironia o cheiro dela fincou raiz naquele ambiente. Olhou para o pulso e seu relógio estava parado, o mesmo caminho que nunca reconhecia.  O motorista e o cobrador mantinham-se da mesma forma. Ficou refletindo quem era aquela mulher, será que era uma concubina? Resolveu podar seus pensamentos não queria mais pensar naquela imagem, começou a apertar a mesma com tanta força, que deu um grito agonizante!
_ Eu quero descer agora! Parem este ônibus. Eu estou dando sinal, vocês não enxergam.
 Mesmo com todo este escândalo nada movia de diferente, o silencio era mantido pelo motorista e pelo cobrador. Indignado com a situação o homem fica mais nervoso!
_ Eu pago impostos, eu contribuo para os salários de vocês, eu exijo respeito, quero descer.
Nada fez efeito, mais ele gritava, e mais seu corpo suava. De tanta humilhação vai à direção ao cobrador.
_ Você é surdo ou o que? Olhe para mim quando falo!
O cobrador nada fez, seguiu da mesma forma intocável. Sem entender ele olha em direção ao motorista e vê a mão dele, uma tinha luva preta e a outra estava toda deformada, como se fosse queimada, mas a diferença que parecia que tinha sido queimada há pouco tempo, estava na carne viva. Naquele momento o ônibus para e abre as portas. Ele houve pela primeira vez a voz do motorista!
_ Chegou, desça logo! Senão sua derrota contaminará este trajeto. Sua “deformice” é um nojo.
Abismado com o discurso, e de como era serena a voz do motorista, ele se cala.
_ Saia logo daqui, senão devoro você! O cobrador se pronuncia.
O homem fica pasmo com as falas e resolve voltar logo e descer. Assim que desce queria anotar a placa do ônibus e denuncia-lo em seguida, percebe que não tinha placa alguma no ônibus. Resolve entrar no serviço, mas antes olha seu relógio e vê que como os outros dias não estava atrasado.
Este dia estava sendo pior que os outros, chegou à hora do almoço, não quis ir, não sentia fome. A gerente preocupada com o amigo, volta com um lanche e o procura, de tanto procurar acha ele no estacionamento escondido.
_ Olha onde está o senhor! Trouxe um lanche para você, o que houve? não esta com fome?
Ele que estava de cabeça baixa, levanta e olha direto nos olhos da sua amiga, ela logo percebe que ele tinha lagrimas nos olhos, nunca o viu desta forma deplorável.
_ Fome... Só se for à minha alma! Que “merda” eu nem sei seu nome!
Sem entender nada ela olha para ele e com um sorriso, pergunta de quem ele falava, mas ele sem querer papo levanta e sai sem olhar para trás. Ele pensava que ninguém podia ajudá-lo, era uma loucura minha e de mais ninguém, essa coabitação é uma cólera que matava o gerente aos poucos.
Ele no serviço nada fez, ficou pensativo e sentado em sua mesa á tarde inteira, apenas mandou seus subordinados fazerem tudo. Terminado seu expediente, foi-se mais um dia que não a via, um desespero adentrou seu corpo. Não quis carona, queria voltar a pé para casa. Não sabendo o que fazer, e a desgraçando, simplesmente por ela o fazer ter saudade, ele caminhou por horas, até o ponto que ele pega o ônibus, parado ali já mais de onze horas da noite, cansado, com fome, sem saber o que fazer, vai para casa.
Antes de dormir ele gritava pela essência, como podia amar alguém que jamais poderia tocar.
30 de dezembro de 2010
Quinta feira


Aquela noite foi a mais sombria, passou-a em claro, não conseguiu dormir, apenas ficava vidrado nas paredes, relutava contra os pensamentos, mas não conseguia, ele admitia que aquela mulher jorrasse devaneios. Logo amanheceu o dia, mal sabia o que fazer, sentia o vazio de uma existência. Sua indagação era? Quem poderia ser aquela mulher? Já cogitava que estava em um estado de demência!
Nesta manhã de quinta, só tomou café preto, e nem adoçou, queria bem amargo, pois assim agüentaria a rotina daquele dia.
Tomou um banho, queria expurgar os pensamentos, já concluía que a face daquela mulher era degenerativa a vida dele, mas porque não conseguia parar de pensar naquele ser? Tentou fazer sua barba, mas arranjou somente um corte, como sangrou, vendo-o descer pelo seu corpo, sentiu-se atraído pela morte. Não querendo ficar naquele ambiente, resolve ir para seu marasmo diário.
Não quis ir de elevador, desceu pela escada, mas ao descer degrau por degrau, era como se a vida dele se afundasse, neste mar de lama, que ele admitia ser o amor.
Passou novamente pelo carro, e nem ligou. Naquela quinta tinha o intuito de perguntar ao porteiro, de onde ele conhecia aquela linha de ônibus? E se ficava longe este bairro, Parque Novo Mundo? Chegando à guarita, percebe que havia uma pessoa nova, não tinha percebido isso antes. _ Com licença onde está o outro porteiro? Ele por ter um ego excêntrico não sabia o nome daquele rapaz.
O novo porteiro nada sabia e a única coisa que sabia, não adiantava nada para o gerente. Ficou pensativo que a última conversa com o porteiro, ele tinha sido grosseiro e rude, mas isso não importava naquele momento, tinha que ir ao ponto, para mais uma vez sentir sua dama. Já a considerava dele, pois a emanação dela estava presente nele.
Indo em direção ao ponto, ele se recordou de sua avó, na infância ela contava historias sombrias, a mesma batizava de “Nênia” dizia que sempre quando alguém morria ninguém saia de casa a noite durante sete dias, pois se saíssem antes, poderiam encontrar os enviados da morte! Durante a semana ela comentava que ouvia vozes pelas redondezas.
Passando esta sensação inicial, de longe ele viu o ponto, e não simplesmente o objeto, mas viu aquela dama. Que parecia que tinha uma coleção de vestidos, o de hoje era rosinha claro, aproximando ele vai em direção dela, e diz:
_ Bom dia. E rapidamente antes que ela falasse: _ Eu sei que começamos errado, mas dê uma chance de recomeçarmos? Ela surpresa com aquela ação, responde:
_ Sim, podemos reiniciar nosso contato, e vejo que estás precisando, porque desde segunda, você vem piorado, não que eu esteja reparando, mas... Ele a corta.
_ Você tem razão, é que não sei o que fazer, internamente minha alma grita, estou ficando rouco, e tenho certeza que louco também.
Ela vendo a melancolia e loucura do homem, pergunta se ele tinha lido o bilhete dela. _ Sim eu li a missiva, assentiu com falas e a cabeça.
De longe vinha o ônibus dela, ela rapidamente, olha nos olhos dele. _ Tenho que ir, mas queria sentir um abraço seu, posso?
Ele sem saber o que dizer, há tempos não tinha um contato tão físico com uma mulher, acabou aceitando. Poder adentrar na pele daquele ser, sentir o sussurro da respiração no seu pescoço, foi intenso, o corpo da mulher entrando em contado com o dele, só havia uma musselina entre ambos. Mas acabou o momento, ela sorriu para ele e subiu para seu destino. O gerente sem palavras ficou imóvel. Votou-se a si, quando o seu trajeto parou no ponto.
O ônibus parou na frente do homem, ele antes de subir, resolve encarar o motorista e indagar._ Alguém esta dentro deste carro? Percebeu que neste dia o motorista tinha coberto as duas mãos. Sem reação, ele parado na porta, questiona mais: _ Onde é este bairro?
Novamente uma voz suave, resplandece da face abaixada do motorista._ Muitos querem respostas, muitos querem explicações, muitos querem viver apenas nos seus anseios, não se preocupam com nada, apenas querem saber algo, isso é nojento. Se pudesse, haveria uma mortandade em massa.  Agora entre logo!
Com aquela resposta o homem resolve subir.
Passando pelo cobrador, que não esboçava nada, já tinha visto que sua dama não estava lá novamente. Sentou no banco e fechou os olhos para recordar da visão, ele se lembrava de todos os detalhes, eram ricos e as sensações eram inevitáveis. Mas foi interrompido pelo cobrador com sua voz horrível. _ Tenha calma, seu infeliz, mas digo de antemão, terás que correr contra o tempo, se entregar de corpo e alma, serás que consegues?
O homem abismado com aquelas falas, não respondeu, olhou para o relógio, e viu ele parado. Em seguida o ônibus parou, teve que descer.
Continuou parado em frente da empresa, nem viu o tempo passar, quando se deu conta, já tinha perdido quase uma hora. Assim que entrou, sua amiga veio a ele, e subitamente jogou as palavras. _ Meu amigo o que aconteceu contigo?
_ Nada demais, agora preciso ir trabalhar. Saiu e nem olhou para trás. Naquele dia nada fez, e saiu na hora do almoço e não voltou para a jornada de trabalho. Caminhou até voltar para seu apartamento. Chegando ao mesmo, foi ao banheiro e começou a chorar, não entendia porque ela só via ao sonhar. Veio à tarde e nada, veio à noite e nada, veio o sono, bateu a saudade, enfim dormiu.

Sexta- Feira

Amanheceu mais um dia, era sexta feira. Ele por ter criado um mecanismo mental jamais atrasava, até quando não queria, acordava. Naquele amanhecer preferia que não existisse. Nos últimos dias não fazia mais nada, além de pensar em uma coisa. Uma mulher! A todo o momento que isso ocorria, pranteava em silencio. Cansou de gritar a esmo. Tinha tido um sonho, enfatiza que o ato da morte levaria á aquele ser.
Aquilo ficou brotando na cabeça dele, no banho, no café, na hora da vestimenta. Olhou no relógio, ainda tinha tempo. Refutava para sair, não queria mais sofrer. Mas a sensação do amor era mais forte, tentava abjurar mais não conseguia. Ao sair pela porta de seu apartamento pensava: _ Eu queria morrer, só assim conseguiria ver.
Descendo mais uma vez pela escadaria do prédio que morava, acabou-se a encontrar o porteiro, aquele que o informou do ônibus Parque Novo Mundo, Numero 066. Acabava de ter um prelúdio de o vendo, seria um sinal que possivelmente a veria também. O porteiro ficou sem graça, porque na visão dele o gerente deveria estar uma fera, devido à pequena mentira que contou. O gerente sem pensar muito, foi para cima do porteiro, ele estava degraus a cima, quando desceu com toda sua força quase derrubou o pobre homem. _ Me digas, de onde conheces aquela linha de ônibus, eu preciso saber, eu a quero para mim, por favor, me ajude! Implorava o gerente. Ele puxou o porteiro pelo colarinho _ Fale logo! Empurrando o gerente da sua frente. _ O que está acontecendo? Não sei de nada.
Ouvindo aquelas palavras do porteiro, nosso homem nada entendeu. _ Como assim, foi você que me deu o nome e o numero do ônibus! _ Sim eu dei, mas peço desculpa, eu o enganei naquele dia, você acabou me irritando, me destratou, fiz isso por vingança, não sabia que você iria pirar. Agora, não fale nada ao sindico, ele pode me mandar embora daqui, veja bem, foi uma brincadeirinha. Cegamente o homem, nem via e ouvia que o porteiro falava, não entendia uma coisa, se aquilo foi uma “mera” brincadeira, como ele entrou no ônibus que não existe? Como ele conheceu aquela beleza rara? Olhou para o porteiro, pediu licença, e saiu das escadas.
Aquilo era irreal está acontecendo, uma penumbra. Porém com a verdade ficou mais pensativo a conclusões imaginarias. Resolveu que iria para o ponto de ônibus novamente, já estava dando a hora do seu ônibus passar. No caminho seu corpo sentia o brilho de um encanto, que ele viu uma vez dentro de um manto. Ela seria sagrada?
Por pensar demais, chegou atrasado. De longe viu a dama de sempre, subindo para o ônibus dela, ela não estava de vestido hoje, usava uma blusinha clara, um jeans apertado, pois via as curvas de seu quadril bem definidos, nos pés calcava tênis azul bebe. Ele correndo em direção ao local a gritou. _ Tenha um bom serviço! A mesma já tinha entrado no veiculo e não o ouviu.
Parado no ponto, nem ousava em colocar a dama em seus pensamentos, já admitia que seu coração fosse de outra mulher. Enquanto não chegava seu trajeto, meditabundava sua vida. Conseqüentemente sofria, sempre sofreu, desde a infância, em casa ou na rua, nunca foi feliz. Agora tinha alguém que ele amava desesperadamente. E por ironia do destino ela nem deveria existir. Aquilo pode ter sido um sonho. _ Não foi um sonho senão já teria acordado. Poderia ser um colapso. _ Não já estaria em um manicômio. Tudo ele perguntava e respondia ao mesmo tempo. Foi quando olhou para frente e viu o tal ônibus vindo em sua direção.
Acenou e o veiculo parou e abriu sua porta. Antes de subir seu coração acelerou, suas mãos suavam, suas pálpebras irritaram-se. Mesmo assim, induziu seus passos aos degraus. Quando adentrou no recinto, olhou para fundo do ônibus, não conseguia ver o final, estava muito escuro. As portas se fecharam e começou a andar. O gerente nem olhando para o motorista seguiu seu trajeto até a catraca e a ultrapassou, foi rapidamente para o banco. Percebeu que sua musa não se encontrava. Ele estava no mesmo local, e acabou se sentindo mal.
Não agüentando caiu de joelhos em cima do banco, chorou... Foi neste instante viu que tinha um pequeno embrulho no banco ao lado, tinha uma embalagem preta com uma fita rosinha, tinha o perfume dela. Não sabendo o que fazer, resolve ir ao cobrador. _ Com licença, encontrei isso no banco dos fundos. Deve ser de alguém. Oi?
_ O que queres seu bastardo! Você inquieta sua vida tanto, que acaba fedendo. Após esta repressão, o homem, volta para o fim do ônibus totalmente escuro, olha para o relógio e o mesmo continua parado. Pensa que aquele pode seu um presente para ele, para quem mais seria. Resolve abrir. Tinha um bilhete e uma moeda, no papel está escrito:
                                                Está moeda é um pagamente que deves a esses homens, senão pagar logo eles vão te devorar. Nosso reencontro logo acontecerás novamente...

Ao termino da leitura, fica pensativo. _ Como assim me devorar? Que linguajar é este?
Olha para a moeda e vê que é de ouro com uma face sem face. Vai em direção ao cobrador, parando na frente dele. _ Está moeda é para vocês. De cabeça para abaixo, o cobrador diz: _ Se eu fosse você desistiria disso, você é um infeliz querendo felicidade no inferno. Depois desta fala ri, mas ri tanto, que sua risada chega a ser sinistra.
_ Do que está rindo? Queria saber o gerente. O cobrador olhando para os olhos do homem questiona se ele tinha certeza daquilo. _ Se diz aqui no bilhete que tenho que entregar isso a vocês, eu farei, ou o presente não era para mim?
O cobrador nem responde a pergunta do homem. Pela primeira vez fala em um tom alto com o motorista. _ Caronte meu irmão, este pobre “bafio” quer nos entregar uma moeda de ouro. O que faremos com ele? De repente aquela voz branda e serena pronuncia silenciosamente algo. _ Nosso intuito não é questionar e sim atravessar. Concluindo sua fala ele para o ônibus. Se levantando. O homem percebe que aquele motorista era alto, seus olhos além de profundos eram vermelhos de sangue. O motorista chega ao cobrador, chamando de irmão. _ Corante meu irmão, me de a moeda que depois a divido.
Visou suas pupilas para o gerente, alegando que ele deveria descer, pois o trajeto tinha se estendido demais.
_ Não vou descer. Quero explicações, e que sejam agora! Gritava. Os dois irmãos subitamente focavam nele. Corante resolve levantar-se também. Como o outro tinha as mesmas características físicas. O gerente só não conseguia ver uma coisa, a face deles.
_ Escute o que vou dizer, pois não repetimos o que falamos. Desça desta barca. Se quiser respostas procure em outro lugar, não somos pagos para sanar suas duvidas. Nada podemos fazer em relação ao seu desespero, já andamos muito com sua pequenez. Hoje inclusive passamos do horário. E se não descer logo, farei o que deveríamos ter feito antes. Desça! Esbravejou. Caronte assentiu com a cabeça.
O homem sem o que fazer. Sem o que entender. Desce. Tinha notado que ao falar daquela maneira o cobrador deixou um hálito fortíssimo no ar, que lembrava enxofre.
Descendo do ônibus, olha para o relógio, o mesmo volta a funcionar, mas mostrava que era 23h! O veiculo saí em velocidade anormal. Foi deixado no ponto que pegava ele pela manha. O que estava acontecendo, tudo fugia das regras da normalidade, voltando para seu apartamento, nota um farol de carro acenando para ele. Era sua amiga da loja. _ O que aconteceu com você? Porque não foi trabalhar? Nem ligou! Respondeu enfaticamente. _ Me deixe em paz... Saí correndo em seguida.
Ela não vai atrás. Aquele dia estava conturbado na cabeça dele, não sabia se aquilo tudo estava acontecendo, nem sabia se a mulher existia, mas o corpo dele a queria. Não entendia sobre o episodio do ônibus. Começou a chover. Os pingos de água escorrendo pelo seu rosto fez refletir. Aquilo tinha que parar, ele perdeu toda coerência, nada daquilo fazia parte do seu intimo. As lagrimas jorrando e misturando com a chuva o faz tomar uma importante decisão. Tudo iria mudar, ele iria desistir de procurar aquele ser.
Sábado

A noite terminou. Aquele homem voltou para casa depois que a chuva passou, era 4h40 da manha. Não quis dormir, tomou muito café e ficou acordado olhando pela janela o dia nascer. A energia cósmica que radiava naquele lindo dia ensolarado o fez voltar a viver, já estava cansado de procurar, não ia mais esperar. Ligou para empresa alegando que precisaria ficar dois dias ausentes. Seu chefe deu estes dias. Logo telefonou para sua amiga, ela tinha sido tão prestativa. Não quis muita conversa, alegou que na segunda contaria tudo. Queria sair daquele ostracismo que foi a sua semana, se arrumou com uma roupa bem largada, camisa toda branca com um jeans surrado e um tênis que há tempos não colocava. Saindo do apartamento, tinha um sentimento, que era de voltar para seu caminho, ele iria esquecê-la sozinho. Pegou o elevador, ao sair foi na portaria, notou que o outro porteiro ainda estava de férias. Queria pedir desculpas pela sua grosseria de segunda, e lógico pela histeria de ontem. Percebendo que isso não seria possível, olha para o relógio, estava quase na hora do ônibus passar, mas não pensava no dele e sim no da moça, a qual ele ignorou os encantos. Apressou para chegar a tempo de falar com a mesma.
De longe percebes que ela não estava lá, via que durante a semana ele a reprimiu.  Engraçado que sente alguém tocando seu braço. _ Oi! Pelo visto não foi trabalhar hoje? Olhando para trás, nota que era a moça, com um sorriso lindo, uma luz que brochava de seus olhos eram incríveis. _ Olá! Não vou trabalhar. Vim apenas para te ver. Ela fica embevecida com tamanhas palavras dele. Ele analisa seu corpo, neste sábado de sol, ela estava com uma minissaia branca dois dedos acima do joelho, uma blusinha tomara que caia roxinha, e uma sapatilha colorida. _ Quero pedir desculpas para você, nesta semana fui arrogante contigo. Ela acaba desculpando ele e também resolve confessar algo. _ Queria te dizer uma coisa, na segunda feira quando estava chorando, é que na noite anterior tinha sonhado com minha falecida irmã. Subitamente o homem lembrou que tinha sido grosseiro com ela na terça, com muito remorso repete as desculpas, curioso pergunta do que a irmã faleceu. _ Ela morreu a hum ano, coitada, sempre foi isolada da família, mal abria a boca, convivia com depressão congênita. Chegando a um momento que se matou enforcada, ela viajou para uma casa de campo da família. Sozinha planejou tudo, foi encontrada dias depois pelo nosso primo por volta das 4h40. _ Sinto muito!
Depois do dialogo seu ônibus chegou, ela o beijou na sua face esquerda, e perguntou se ele tinha guardado o bilhete dela. Acenou que sim.
Depois que ela saiu, ele ficou desanimado com a notícia que ela tinha perdido sua Irmã de uma forma tão brutal. Nem tinha notado que já era quase 9h, o ônibus não passava. Estranhou, por um momento concluiu que tudo foi um pesadelo. Nada tinha existido. Como o destino tinha sido pérfido. Independente do que, ele teria que se recuperar. Mesmo que o caminho fosse uma escuridão.
Saindo lentamente do ponto, ouviu um barulho de um veiculo, antes de olhar acabou sendo acometido por uma sensação. Depois que ele virou, era de novo, o Parque Novo Mundo, 066. Em uma velocidade se questiona se aquilo seria real. O ônibus ao parar abre as portas. De cara está o motorista de cabeça baixa, o gerente sem esboçar muito fala: _ Pode fechar as portas não irei a lugar nenhum hoje. Antes de terminar sente um cheiro pelo ar, algo como o exalar dos deuses. Sentiu um frio na barriga e sua mente parou. De repente aquela mulher aparece na porta do ônibus, com um olhar fez o coração de o homem amar novamente.
_ Entre, preciso falar com você! Sem pensar muito ou perguntar qualquer coisa, subiu. A querença de um simples pedido fez agir desta maneira. Passou com o ser dela pela catraca, o cobrador do jeito que estava nem se mexeu. Ela sentou no mesmo banco do primeiro encontro, a diferença que ele sentou ao lado dela. _ Tinha lhe dito que voltaríamos nós ver. Aqui estamos juntos.
Ele tendo a percepção do redivivo, volta-se para o ser dela com as seguintes palavras: _ Sofri demais, senti um vazio extremo a ponto de querer me matar por não poder me encontrar, mas independente disso, só estando aqui, já me faz amar plenamente sua pessoa, quero dizer que te amo. Apesar de não saber nada de ti, quero viver ao seu lado para sempre. Ela olhava dentro de sua alma, confidenciava e aclamava as palavras dele. Querendo falar ele continua. _ Fique comigo! Ame-me também, ou me mate. Mas não me abandone mais. Calmamente ela disse:_ Tranqüilize, estamos chegando à minha casa, lá serei sua como nunca fui de outro homem, me entregarei a ti. Com os olhos cheio de lagrimas ele pede um abraço. Ela consente!
No meio deste sentimento, a voz serena de Caronte. _ Chegamos ao destino final, sua moeda vale até aqui. Desçam! Ela pega nas mãos do gerente e desce com ele. Ao descerem o ônibus segue seu caminho, estava uma noite nublada. Depois de certo ponto eles perdem de vista aquele veiculo. Se voltando para frente nota que está um cemitério, não se assusta com aquilo, se sente confortável e forte ao lado da mulher. Os dois entram, sem falarem nada, chegam a uma parte do cemitério que tinha um tumulo, ele não quis reparar no que estava escrito. Percebeu que era um jazigo muito sofisticado, com material de bronze. Havia uma ornamentação de um anjo, com os braços abertos, ao lado uma pequena porta, ela abriu a porta e entrou, chamando em seguida. Quando entrou, ela entregou seu corpo, copularam. A única frase que se ouviu foi a dele. _ Minha vida iria recomeçar.

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Domingo

O domingo chegou. O homem se levanta. Olha do lado e sua musa não está. Aquele estranhamento logo passa, quando de fora, ouve a voz dela. Ao sair da pequena capela, olha ao seu redor. A congruência que sente é imaginável, um novo homem amanhecia. O céu estava unicamente limpo e azul, parecia contemplar a junção dos dois. Ela estava sentada em cima de um tumulo. Ele puxou assunto. _ Nunca senti o que sinto por você, nosso encontro desta noite, lateja em meu corpo até agora. Mas preciso de informações, saber quem é você? O que estamos fazendo aqui neste cemitério? Aquele ônibus...
Ela se levanta e começa a andar, diz que será franca com ele, pois não pode mentir. _ Vou relevar algo, que possivelmente você não entenda. Com um ar sombrio ela assustava o gerente. _ Tudo bem, diga, fale tudo.
_ Eu Estou morta! Matei-me enforcada há um tempo. Usei o porteiro para que você chegasse a mim, o ônibus é uma barca, lá é atemporal a sua realidade. O motorista é um viajante do inferno. É isso. Após esta revelação, o gerente não temia a pessoa dela, ficou mais fascinado. Queria saber somente como pode os dois estar juntos. _ Como?
_ Em vida tive sofrimentos por não me preparar, havia uma ignorância espiritual, eu queria respostas prontas para meu intimo, não queria superar dificuldades, subir degrau por degrau, isso acabou virando meu inferno astral. Diante disso cometi o suicídio. Sem amar um ser. Por ter sido materialista, fiquei presa a este mundo. Até que um dia, me deparei com seus pensamentos tristes. Caminhei ao seu lado. Conseqüentemente comecei a te amar. E só o verdadeiro amor desinteressado e solitário cobre uma multidão de pecados. Ela iria continuar, mas o homem não deixou, abraçou fortemente, dizia que não queria saber mais nada.  Queria coabitar com ela pela eternidade, em decorrência que seu coração exacerbava um sentimento puro e bonito. _ Antes de você era um mofino sem alma! O que faço para imortalizar nosso amor?
Ela pegou em suas mãos, beijou seus lábios calmamente, queria sentir o gosto da paixão. Depois disso alegou que se ele teria dois caminhos sem volta. O primeiro era sair do cemitério e viver sempre procurado. E o segundo era morrer amando.
O ventou soprava bruscamente em volta deles. O homem largou as mãos dela, foi até o portão principal do cemitério, tirou do bolso um bilhete, leu, chorou, em seguida deixou o vento levar o papel embora. Ele tinha feito sua escolha. As folhas ao redor caiam. O gerente tinha encontrado a paz...
Misteriosamente o bilhete voava sem parar, pousando apenas em um carro, era de uma mulher que estava indo trabalhar em uma empresa do ramo comercial. Ela parou o carro, saiu dele. Tirou o papel do retrovisor. Portanto não queria jogá-lo fora. Então abre e lê...

Sete dias da semana

Sete dias da semana
A minha história começa na Segunda-Feira
E vai até domingo na maior zoeira
E neste dia minha vida irá terminar
Depois... No cemitério vou estar

O Segunda-feira, onde eu conheci um amor
Foi aí que começou toda dor
Ela parecia uma fada
Mas, colocou-me entre a cruz e a espada

Naquela noite voltava em direção ao lar
Foi quando a vi e não consegui desviar o olhar
Aquele olhar que me olhava
Aquele corpo ao andar me chamava

Nela eu vi tudo
Parecia um novo mundo
Mas... Ela sumiu
Ninguém a viu

Será que foi fruto da minha imaginação
Ou algo além da minha compreensão
Ao acordar na Terça-feira pensei
Acho que sonhei

Não pode existir uma mulher tão bela
Que uma pequena luz me encantou, mas se apagou como uma vela
Naquele dia ao anoitecer
Fiquei atento, pois ela queria ter

A noite se foi e eu me senti derrotado
Não a encontrei e estou acabado
Na Quarta-feira estava loucamente apaixonado
Por um vulto ao qual nunca estive abraçado

Minha alma estava com fome
Eu nem sabia seu nome
Como posso amar
Alguém que não posso tocar

Chegou Quinta-feira fiquei louco
De tanto gritar estava rouco
Na busca me entreguei de corpo e alma
Mas, já estava perdendo a calma

Meu coração começava a chorar
Ela só via ao sonhar
Sexta-feira eu queria morrer
Só assim conseguiria ver

O brilho de seu encanto
Que eu vi uma vez e dentro de um manto
Estava no mesmo local
Lá comecei a me senti mal

Por uma pessoa que eu nem sabia se existia
Mas... Meu corpo a queria
Então começou a chover
E desisti de procurar esse ser

No Sábado ao amanhecer
Voltei a viver
Cansei de procurar
Não vou mais esperar

Voltarei para meu caminho
Esquecer-te-ei sozinho
Meu caminho agora era uma escuridão
Foi quando eu senti uma sensação

Era, e
la com aquele olhar
Meu coração voltou a amar
Queria que eu fosse atrás dela
Fui sem perguntar quem era ela

No cemitério entramos
Lá nos juntamos
E fizemos o ato de copular
Minha vida iria recomeçar

O Domingo chegou
E ela me revelou
Que estava morta
E eu teria dois caminhos sem volta

O primeiro era viver sempre procurando
E o segundo era morrer amando
Então fiz minha escolha
Começou a ventar e caíram muitas folhas
Minha vida tinha encontrado a paz...



Fim

Realidade/Joy division